Balanço da safra 2020/21 e perspectivas para o ciclo 2021/22

Autor:
Guilherme Belon e Lucas Rodrigues
Ano de Publicação:
2021
Referência:
Artigo publicado originalmente na Revista Agroanalysis, de maio de 2021.

O final da moagem na safra 2020/2021 trouxe consigo um saldo positivo para as operações do setor sucroenergético. O resultado alcançado, contudo, não reflete a gangorra de expectativas que essa indústria vivenciou ao longo do último ano, em virtude dos efeitos da pandemia nas condições de mercado e em toda a sociedade.

No início de 2020, a perspectiva para a safra 2020/2021 se apresentava com ótimos horizontes, tanto do ponto de vista de remuneração, com um cenário altista para o açúcar no mercado internacional diante da expectativa de déficit mundial para o ciclo que se iniciava, como também em termos operacionais. Porém, conforme os meses de março e abril avançaram, os efeitos da retração econômica e as medidas de isolamento adotadas afetaram drasticamente o cenário desenhado.

A restrição para a mobilidade urbana reduziu drasticamente a demanda por combustíveis, impactando o preço do petróleo no mercado internacional, que atingiu o menor nível nos últimos 20 anos.

No mercado doméstico, o reflexo foi imediato. O preço da gasolina na refinaria retraiu 50% em relação ao preço praticado no momento pré-pandemia e o valor recebido pelos produtores de etanol caiu para o menor nível dos últimos 10 anos. No mercado de açúcar, o cenário altista deu lugar para uma retração que levou a cotação da commodity atingir 9,5 cUS$/lb.

Felizmente, aos poucos essa condição caótica foi se alterando. As cotações do petróleo e do açúcar no mercado internacional se recuperaram gradativamente, e para os produtores nacionais do setor, a depreciação do Real ante o dólar tornou a exportação mais rentável e competitiva. Com efeito, no final da safra se observou um salto de 70% nas exportações de açúcar e de 55% para o etanol ante o ciclo 2019/2020, gerando um saldo líquido de US$ 10 bilhões em divisas.

No mercado doméstico, a receita dos produtores com etanol se recuperou e fechou a safra  com valor 2,3% superior ao ciclo anterior. A receita com açúcar que registrou aumento de 31% em mesmo período.

Além disso, é importante frisar a importância do setor sucroenergético como provedor de produtos sanitizantes, imprescindíveis na contenção da proliferação do vírus. O mercado de álcool não carburante registrou crescimento de quase 30% ante a safra anterior, atingindo 1,30 bilhão de litros.

No campo, as chuvas abaixo da média histórica permitiram uma melhor operacionalização da colheita, fortalecendo o índice de aproveitamento de moagem e propiciando maior concentração de açúcares (ATR) na planta. Essa combinação possibilitou ampliar a eficiência industrial, com a maior oferta de produto da história do setor sucroenergético.

Com um balanço final de safra 2020/2021 positivo, a gangorra mais uma vez se movimenta para a safra 2021/2022. Esse novo ciclo se inicia com uma preocupação em relação ao tamanho da safra. A disponibilidade de cana deve ser inferior ao último ano em função da condição climática adversa que deve impactar negativamente a produtividade agrícola, da menor área disponível para colheita e da provável redução na qualidade da cana-de-açúcar a ser colhida.

Em relação aos preços, é muito difícil qualquer afirmação assertiva diante das incertezas da economia mundial. Apesar dessa cautela, hoje as expectativas são promissoras devido a receita convidativa para o etanol e açúcar diante cenário altista das cotações do petróleo e do adoçante, além do câmbio favorável à exportação.

Por fim, o mercado de crédito de descarbonização (CBios) inaugurado em 2020 ganha cada vez maior relevância e se consolida como uma nova alternativa de negócio para o setor sucroenergético. No último ano, foram negociados 14,6 milhões de CBios, gerando um movimento financeiro de R$ 635 milhões. Em 2021, a quantidade negociada deverá atingir 25 milhões de créditos de descarbonização.

Em síntese, apesar das oscilações trazidas pela pandemia, a indústria sucroenergética mais uma vez mostrou resiliência, capacidade inovação e competitividade para se adaptar as mudanças em curso.