O pacto histórico assinado por 197 países na 21ª Conferência das Partes (COP-21) da Convenção- Quadro da Organização das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) estabeleceu um novo marco no enorme desafio de manter o aumento da temperatura global abaixo de 2 °C e combater os efeitos nefastos do aquecimento global.
A despeito do ceticismo do atual presidente americano ante as evidências empíricas e os estudos contundentes sobre o tema, é inegável a mudança profunda no comportamento mundial, e a busca pelo uso consciente de energia limpa e renovável retrata um movimento sem volta.
A necessidade de transformações para a preservação e o uso racional dos recursos naturais passou a permear as discussões sobre segurança energética. No entendimento coletivo, não é possível manter o padrão de vida atual sem comprometer o futuro das próximas gerações.
Nessa linha, apesar das políticas erráticas dos últimos quinze anos, o caso brasileiro ainda é considerado um exemplo de sucesso: as suas fontes renováveis respondem por expressivos 39% da matriz energética nacional. Já os produtos de cana-de-açúcar destacam-se ao representarem cerca de 16% da matriz ou 40% de toda a energia renovável ofertada internamente. Estas cifras são obtidas com a utilização de apenas 0,6% do território nacional para o cultivo da lavoura canavieira destinada ao uso energético.
Esse destaque da bioenergia é reconhecido no compromisso internacional estabelecido pelo Brasil na COP-21, o qual prevê a ampliação da energia elétrica limpa na composição da matriz de 28% para 33% até 2030, enquanto a participação dos biocombustíveis deve atingir 18%.
Ao contrário de várias nações, o País tem uma posição privilegiada, com a possibilidade de expansão do etanol sem desmatamento, competição na produção de alimentos e desafios estruturais intransponíveis. O seu sistema de abastecimento já conta com bomba dedicada em praticamente todos os postos revendedores e uma enorme frota de veículos flexíveis aptos ao uso do produto.
Diferentemente de outras opções ambientais eficientes vislumbradas para o futuro, o etanol produzido no Brasil é uma alternativa econômica viável, com técnica dominada e, mais importante, pronta e disponível para o combate ao aquecimento global de forma imediata.
Tecnologias automotivas em desenvolvimento ou em fase de testes, como os veículos elétricos movidos a célula de combustível ou os carros híbridos flex-fuel, podem fortalecer a vantagem brasileira e reforçar a importância do etanol.
Afora o ambiente político conturbado, esse período é importante para o desenho de um plano estratégico. De um lado, há a necessidade de reordenação do mercado de combustíveis decorrente do novo posicionamento da Petrobras e da perspectiva de déficit de oferta interna nos próximos anos. De outro lado, o Brasil inicia a discussão sobre o regime automotivo com metas para pesquisa e desenvolvimento em
engenharia, eficiência energética e segurança veicular.