Melhoria pontual não garante novos investimentos

Autor:
Antônio de Padua Rodrigues, Luciano Rodrigues e Mariana R. Z. de Lucca
Ano de Publicação:
2017
Referência:
Artigo publicado originalmente na Revista Agroanalysis, de maio de 2017.

O Brasil viveu momentos turbulentos em 2016: impeachment, desemprego recorde, calamidade financeira dos estados, entre outros. Para a atividade sucroenergética, entretanto, a safra 2016/17 apresentou melhores resultados em comparação a anos anteriores: o faturamento médio da indústria canavieira, retratado a partir dos índices registrados para o estado de São Paulo, atingiu R$ 149,35 por tonelada de cana-de-açúcar.

Este valor, em termos reais, supera em 18% o apurado na safra 2015/16, com preço médio da matéria-prima superior a R$ 90 por tonelada.
Mesmo com a baixa produtividade agrícola, os produtores rurais conseguiram rentabilidade positiva. Isso se refletiu na geração de divisas: o setor posicionou-se em terceiro lugar no ranking de exportação do agronegócio nacional, com embarques de etanol e açúcar no valor US$ 11,3 bilhões.

A saúde financeira de parcela significativa do segmento sucroenergético ainda requer cuidados. As políticas erráticas dos últimos anos promoveram um aumento sem precedentes na alavancagem das empresas. Cerca de 15% das suas receitas estão comprometidos com o pagamento de despesas financeiras.

A generalização dessa condição exige cautela. Enquanto, para 15% das unidades, a dívida líquida atingiu níveis alarmantes (acima de R$ 200 por tonelada de cana-de-açúcar); para uma parcela responsável por 10% da moagem do Centro-Sul, este indicador encontra-se em patamares relativamente reduzidos (R$ 50 por tonelada).

Os resultados da safra 2016/17 decorrem de mudanças estruturais e episódios conjunturais dos mercados. No açúcar, o déficit mundial do
produto e a desvalorização do real contribuíram para a ampliação da receita. Em relação ao etanol, houve as mudanças nas alíquotas de ICMS em diversos estados e a nova política de precificação da gasolina adotada pela Petrobras.

A quebra agrícola foi outro elemento influente nas receitas e nos custos de produção no ciclo 2016/17 da região Centro-Sul: 77 toneladas
por hectare colhido, frente a 83 toneladas no ciclo anterior.

Esta retração na oferta de cana-de-açúcar foi determinante para as importações brasileiras de etanol. Pela primeira vez na história, a balança comercial do biocombustível foi ligeiramente negativa, mas fundamental para garantir o abastecimento doméstico e refutar qualquer hipótese de alteração da mistura de etanol anidro na gasolina.

O restabelecimento da cobrança de PIS/COFINS sobre o etanol hidratado no início de 2017, sem nenhum tipo de contrapartida ao seu concorrente, a gasolina, causa preocupação. Esta medida deve promover perda de competitividade do renovável na safra 2017/18, iniciada em abril.

Apesar do cenário favorável de 2016, as incertezas quanto ao futuro do etanol combustível no Brasil continuam. Sem diretrizes claras quanto ao papel do renovável na matriz energética nacional, fica difícil que haja novos investimentos para aumentar a capacidade produtiva com base em um único ciclo de preços mais atrativos.

Com diretrizes claras, a indústria sucroenergética terá condições de responder com a ampliação de investimentos e geração de renda, divisas e empregos em um momento absolutamente propício, em que o Brasil vive uma das piores crises da sua história.