A mídia e a própria Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) retratam a preocupação com o suprimento no mercado brasileiro de combustíveis.
Caso novos investimentos não sejam realizados, as importações de derivados pelo Brasil podem quadruplicar até 2030.Na última década, com estímulos ao consumo e restrições à produção doméstica, o País, que chegou a ser autossuficiente na produção de derivados, passou a importar combustíveis para atender a demanda nacional.
A infraestrutura limitada para a importação e os riscos de abastecimento associados à dependência externa crescente evidenciam a necessidade de um plano de longo prazo para a matriz brasileira de combustíveis.
Melhoria nos serviços de transporte público, programas para a ampliação da eficiência da frota nova e a incorporação de novas tecnologias veiculares são opções para reduzir o consumo, melhorar o aproveitamento da oferta disponível ou ampliar as possibilidades de uso de novos combustíveis.
Essas alternativas, contudo, demandam um período relativamente longo para surtirem efeito. Recente estudo conduzido por empresa internacional na área de energia (E4tech) mostra que, em 2030, mais de 90% da frota mundial utilizarão combustíveis líquidos.
Responsável por cerca de 40% da energia renovável ofertada no Brasil, o setor sucroenergético apresenta um enorme potencial para substituir parte da importação prevista de combustível fóssil.
Além de apresentar condição singular no mundo, com a possibilidade de expandir a área cultivada com cana-de-açúcar sem desmatar 1 único hectare, o País está prestes a presenciar avanços tecnológicos importantes na produção de etanol.
Esse potencial foi reconhecido no compromisso apresentado pelo Brasil às Nações Unidas na 21ª Conferência do Clima (COP-21), ratificado em 22 de abril deste ano, na cidade de Nova York. A proposta apresentada prevê que a participação dos biocombustíveis na matriz energética brasileira deve atingir 18% em 2030, com crescimento do consumo de etanol combustível para cerca de 50 bilhões de litros.
Este aumento reduziria as emissões de gases do efeito estufa em 571 milhões de toneladas equivalentes de gás carbônico: uma quantidade três vezes maior do que aquela emitida pelo desmatamento de florestas no País (175 milhões de toneladas de CO2 eq.).A expansão da indústria canavieira para o atendimento da meta proposta promoveria a criação de mais de 700 mil novos postos de trabalho. Segundo estudo conduzido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), haveria uma economia superior a US$ 23 bilhões para os sistemas de saúde público e privado.
Esses dados mostram a posição privilegiada para ampliarmos a produção de etanol e garantirmos o abastecimento da frota crescente nos próximos anos.
Com um planejamento adequado, um arcabouço regulatório duradouro e políticas públicas na direção correta, o país do pré-sal e do etanol superará a discussão sobre importação de combustíveis para atendimento da demanda doméstica. No caso do bicombustível, será possível reduzir o déficit de combustível, mitigar os efeitos nefastos do aquecimento global e gerar benefícios secundários expressivos à sociedade, com investimentos e geração de empregos e renda.